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CAMPO & CIDADE

A boa cana joinvilense

Dia desses um grupo de produtores de cana-de-açúcar de Joinville se reuniu. Local: lavoura de Carlos Voigt, adjacências da SC 418, popular Estrada Imperial da Serra Dona Francisca. O foco: trocar experiências sobre como conter o tombamento, ocorrência bastante comum.

Entorno de serra, ventos surpreendem. E, é claro, há as varrições edafoclimáticas. Questões de fertilidade. Mas também limitações de
natureza física: granulometria, porosidade, densidade. E capacidade de campo (água). E, sobretudo irradiação solar, limitação severa na região. O agravante: dado prolongamento das chuvas, resta pouco tempo para o devido preparo do solo. Eleva-se assim o custo: mais máquinas, mais equipamentos.

Mas cá entre nós: cana-de-açúcar, um cultivo milenar. Acompanha o homem há muito tempo, mais de quatro mil anos, caso da Índia, berço provável da cultura. Chegou ao Brasil, segundo consta, na expedição de Martin Afonso de Souza (1532). E veio para, definitivamente, mudar os rumos das terras tupiniquins.

Solo e clima favoráveis país afora, e um mercado ávido por açúcar e cachaça impulsionaram o cultivo. Primeiro na região nordeste, e depois, praticamente, em todo o território nacional.

A produção gira na faixa de 470 milhões de toneladas/ano. Expressiva - 33% da produção mundial. Valor bruto da produção anual: 70,6 bilhões de reais. Dados de 2020.

Hoje, o Estado de São Paulo se destaca; além do açúcar, na produção de etanol – combustível de cunho ecológico.

Certamente, o famigerado PROALCOOL - rescaldo da crise do petróleo -, idos de 1973, abriu novos horizontes. Era Geisel.

E vem a pesquisa. Muita pesquisa. Melhoramento genético contínuo redundaram em mais de 4 mil variedades. Espécies originais: 33. Uma curiosidade: há cultivares que chegam a atingir 6 metros de altura. Planta classificada como C3; daí a alta capacidade de converter a energia solar em sacarose.

No momento, em nível nacional visando fortalecer a pesquisa, universidades uniram-se formando a Rede Interuniversitária para o
Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA). Agrega dez instituições.

É robusto o setor, portanto. Seja em termos de emprego e renda, seja no desenvolvimento tecnológico. Além dos derivados: açúcar, etanol e a famosa cachaça, há uma série de outros subprodutos igualmente notáveis: com destaque para o caldo de cana e o melado. E as bolachas e doces, preciosidades daí advindas. E também na alimentação animal - in natura ou na forma de silagem.

Joinville, assim como o litoral catarinense, historicamente se destacou como polo canavieiro. Engenhos. Muitos engenhos.

Consta que a Princesa Izabel em meados de 1867 visitou a Usina de Açúcar do Duque de D’Aumale na, hoje, estrada da Fazenda, margens do rio Cubatão. Na época reconhecida como uma das mais modernas das américas. Ressalte-se: D’Aumale – irmão do príncipe de Joinville -, pertencia à Academia de Ciências da França.

A visita foi extremamente proveitosa. Carlos, como anfitrião, discorreu sobre a lavoura, colocando-se à disposição para eventuais
questionamentos. E não foram poucos. Fez questão, no entanto, de ressaltar: foi bastante criticado sobre a forma de condução do canavial, especialmente quanto ao sistema de amarração para sustentar as varas. Varas entoiceiradas, claro. Feixes aqui e acolá, alinhados.

Confessa que foi aconselhado pelo pai - o senhor Oswaldo. Seguiram as pegadas de armações utilizadas no cultivo de tomate, tradição de família. E a medida deu tão certo que o canavial passou incólume pelo ciclone bomba de 2020.

Outro desafio: o enraizamento precário. Touceiras soltas. Uma análise de solo providencial apontou o problema: acidez, excesso de alumínio trocável no solo. A solução: aplicação de calcário. Resultado: Canavial vistoso. Alto. Gomos amarelos à vista. Ponteiros verdejados.

Às vezes, ousar faz toda a diferença pondera Carlos. Os presentes perceberam isso. Assentem.

E Marisa Fock, Eng. Ambiental da UDR 25 de julho, e Dione Benevenutti, Eng. Agrônoma da Epagri, não perdem tempo. Instigaram o
grupo para elaborar um projeto de Indicação Geográfica (IG) como forma de regatar o histórico da cana-de-açúcar na terra dos príncipes. Afinal, faz parte do brasão da cidade. Do terroir joinvilense.

Resgatar personagens e fatos marcantes, publicar e divulgar, é antes de tudo um gesto de reconhecimento aos pioneiros. E, sobretudo, aos produtores atuais, cujo dedicação se percebe na produção de cana para melado, caldo de cana e cachaça. Tudo produto da melhor qualidade. Coisa de raiz. Mãos à obra, portanto, ó bravos canavieiros!


Joinville, 10 de agosto, 2024

Onévio Zabot
Engenheiro Agrônomo

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